Nasci na Cidade Velha, bairro de Belém do Pará, no dia 3 de março de 1950. Não gostava de roupa. Tudo fazia para andar nu.
Tinha razão. Numa terra de muito calor, quanto menos roupa melhor.
Minha foto mais preciosa, ao lado de minha prima Nazinha (Maria de
Nazaré), hoje com 71 anos, data de março de l953, em Val-de-Cans, Base
Aérea de Belém.
Naquela época, a Base Aérea de Val-de-Cans parecia mais
longe... A 16 km da cidade. Hoje está tudo interligado. Lembro-me de
várias áreas cercadas com arame farpado, cheias de sucatas de carros,
tanques, jeeps, aviões, tudo deixado pelos norte-americanos que
mantiveram uma base de apoio, espécie de trampolim para a África,
durante a Segunda Guerra Mundial. Essa história ainda está por ser
contada. Não há um livro sobre a presença americana em Belém durante a
guerra. Talvez Jarbas Passarinho, do alto dos seus 92 anos, saiba me dizer alguma coisa ou citar algum livro saído nos Estados Unidos.
As casas da base aérea foram construídas pelo ianques. Tinham poucas paredes, o mais era tela fina para impedir a passagem do carapanã,
que infestava Belém. As ruas eram de uma espécie de lama asfáltica.
Havia bosques diante das casas. Minhas primas sempre me levavam para ver
os Catalinas (aviões anfíbios), que depois de l958, reformados nos Estados Unidos, formaram um esquadrão especial do Can Amazônia
para atender às populações ribeirinhas do Alto Solimões, do Rio Negro e
do Rio Javari. Viagens com a FAB entre l975-2003 me possibilitaram
resgatar muitas histórias e ler vários livros sobre os tempos heróicos
da FAB. Tio Januca, que chefiou a Capelania da Base Aérea de Val-de-Cans, entre l947 e l954, contou-me muito causos. Fora amigo do célebre Brigadeiro Cabral e do coronel Haroldo Veloso, que comandou a Revolta
de Jacareacanga, além de amigo do general Zacarias de Assumpção,
governador do Pará. Perseguido pelo Baratismo, tio Januca teve que sair
às pressas de Belém, fixando-se em Lagoa Santa (MG).
Fui para Val-de-Cans com alguns meses de idade e lá
passei até meus 4 anos. Depois vivemos no bairro de Nazaré. Em 1955
deixei Belém, já órfão de pai. Voltei a Belém, todos os anos, entre
1956/1961, viagens de navio. O objetivo maior era assistir ao Círio de
Nazaré, devoção de minha mãe. Essa festa religiosa, um verdadeiro Carnaval Devoto
pela miscelânea que é... festa profana, procissão, folguedo, comércio,
arraial, comilança e bebedeira, chega a dois milhões de pessoas no dia
12 de outubro.
O Círio de Nazaré, de há muito, ganhou renome nacional.
Hoje, onde vivem mais de 200 paraenses, certamente, se promove a
procissão do Círio como em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde vivem uns
5 mil paraenses, outrora chamado de “Exército do Pará”, em que se
alistavam Jarbas Passarinho, Osvaldo Orico, Raimundo de Carvalho Chaves, Eneida, entendida em samba e escritora, o jogador Quarentinha, célebre craque do Botafogo nos anos 50/60, Oliveira (lateral do Fluminense), para citar alguns.
Tenho vaga lembrança dos banhos de chuva no quintal de
casa e na rua. A foto que guardo foi batida diante de nossa casa em
Val-de-Cans. Contava menos de 3 anos. Nunca deixei de tomar banho de
chuva. Não mais nu, como quando criança, mas de bermuda. Nos tempos da
Fazenda Rosa dos Ventos, em Monerá, aproveitava os aguaceiros para tomar
banho e espantar o calor. Gostava também de, em pelo, andar a cavalo
entre Monerá e a fazenda, sob os protestos do Tio Januca, uma figura sem
espírito de aventura e pouco senso de humor. Nunca me entendi
com ele e pior ainda em matéria religiosa, agnóstico que sou desde que
me conheço por gente. Nunca tive fé. Padeço por isso num mundo
confessional, devoto e pentecostalista. O que posso fazer contra as
imposições de minhas leituras devastadoras?
Sigo como o menino que gostava de tomar pelado banho de chuva, mas
aprendi a não confiar na humanidade nem acreditar em anjos. O mundo é
uma grande tragicomédia, palco de muitos espertalhões que se valem da
ingenuidade de tantos para os explorar, confundindo idealismo com
burrice. Felizmente, ainda gosto de tomar banho de chuva.
Imagino que a Ligia Baleeiro ira ler este comentario.Nao consegui o email do escritor Jorge Baleeiro e recorro a este blog...Ao pesquisar o Engenheiro Rubens Pereira Reis de Andrade,encontrei um post assinado por Jorge Baleeiro no Jornal de Beltrao datado de 25 de setembro de 2010.
ResponderExcluirApresento-me..meu nome eh Greice de Cassia ,sou filha da cidade de Porto Nacional citada no post,hoje no estado do Tocantins.Cresci ouvindo meu pai ,Olegario Jose de Oliveira (hoje com 73 anos),contar e recontar historias do seu tempo de menino no entao norte de Goiase a admiracao que tinha por dr.Rubens(como ele o chama) e sua familia.E ele,tal qual um Marcel Proust tupiniquim,tem tentado compilar suas historias na busca por dados dessa sua historia...Pediu-me para localizar o Rubinho(filho do Eng.Rubens )tambem citado no texto.Temo que sua memoria nao o auxilie a contento nesta empreitada....Espero poder contar com a ajuda de voces a fim de localizar o Rubinho e tambem,audaciosamente,sonhar com uma conversa do meu pai e suas memorias(conta com detalhes visitas de presidentes e generais a Porto Nacional) com a genialidade e a (impressionante!!) memoria de Jorge Baleeiro.Meu email..greicecassia@hotmail.com
"(...) O mundo é uma grande tragicomédia, palco de muitos espertalhões que se valem da ingenuidade de tantos para os explorar, confundindo idealismo com burrice. Felizmente, ainda gosto de tomar banho de chuva."
ResponderExcluirGosto de reler esse pequeno trecho.